A amiga vem me falar das minúcias do seu amor.
Passou a tarde com ele, mas no último minuto deitou em seu peito e ele levantou depressa, para não perder a hora.
Minha amiga perdeu o bonde, o rebolado e calou seu desencanto.
Levou a dúvida para remoer.
Ele nem sabe que o salto provocou um sobressalto no último instante de uma tarde de amor. Homens não são detalhistas, vêem o todo, não conseguem entender as partes, os vãos, as manhas, os territórios delicados onde não se deve pisar.
As mulheres enxergam com lupas.
Sabem avaliar um olhar mais profundo ou vazio, se o aperto de mão foi frio, quantas horas ele demorou pra ligar, se reparou no vestido de renda, se deu beijos quando ela quebrou o dedo anelar.
Mulheres se ligam em pequenas atenções, querem carinho.
Eles fazem uma avaliação genérica da vida.
Se ainda dá pé, se não dá e se foi bom repetem, esta é a sua mensagem, sem ir muito fundo, deixando o pescoço fora d´água, à prova de mergulho.
Dizem eles que é pra respirar.
As mulheres querem ser alvos de gentilezas a cada encontro e não só no primeiro.
Mais que gentileza queremos ter certeza que somos amadas todo dia.
Mulher não se cansa de ouvir “eu te amo”, por nós o disco enroscaria neste ponto e ainda assim a frase seria música incansável.
Mulher quer mesmo é reciprocidade, não ser ignorada quando está com saudade e o cara fica ali, sem se tocar, vibrando mais com o drible do Cacá do que com o olhar de peixe lânguido que ela lança do sofá.
Mulher quer namorar todo dia, fazer do amor sua elegia, seu gosto pela vida, sua cachaça, sua folia de beijos, afagos, carnavais de Olinda que não terminam.
Ás vezes, olho para as mulheres e vejo um bando de malucas cheias de vida e desejo.
Ás vezes, olho para as mulheres e vejo um bando de malucas cheias de vida e desejo.
Damos nó em pingo d´água para arranjar horário na agenda e fazemos três tarefas ao mesmo tempo, costuramos trânsito, compramos o vinho, a vela, arranjamos flores na tigela.
Quando ele chega, está tudo lá, num passe de mágica, como se nem tivéssemos acelerado a rotina.
Homens têm dificuldade para sustentar romances.
Começam bem com aquele atrevimento masculino, colocando lenha na fogueira da conquista, mas com o passar do tempo soltam menos faísca.
Por isso nem bem chegam, amiga, e já estão de partida.
Às vezes acho que pra eles, amor é rima proibida.
Mas precisamos deles, com suas desatenções rotineiras, para tecer a poesia do planeta.
Às vezes só nos compreendem quando tudo acabou e já vamos longe.
Aí se dão conta da experiência inesquecível e repetem para não sei quem ouvir:
“Que mulher era aquela!”
Sim, eu sei, dá vontade de esganar a criatura...
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